Hoje são treze de fevereiro de dois mil e dezenove e o mundo não acabou. Todo dia é tanta coisa que a sensação é que, mesmo com vários acréscimos ao longo do dia, sempre algo está ficando de fora. Ao mesmo tempo já me prometi não me perder no miúdo e acabar fazendo apenas um sumário das polêmicas. Eu me lembro quando tirava uma coluna para recomendar um livro ou homenagear um amigo que já se foi, e agora é essa urgência de reportar a implantação da distopia tropical e mais nada. Vivendo ainda mais como um misantropo, dificilmente algum outro assunto, algum assunto banal, preenche alguma parte do dia. Mas suspeito que não seja o único. Como eu sou um privilegiado seja ao dispor de meios ou poder dispor de meu tempo, ainda posso simplesmente decidir passar uns dias na praia, e é o que eu fiz. Cá me encontro em Ubatuba, alheio, o mais que possa, ao pandemônio social e institucional que impera. Só de escantear um pouco a internet já pude retomar a fascinante leitura de Syphilis in Shakespeare’s England, meio que descansar carregando pedra, como diz meu pai, porque é parte de um projeto futuro de um livro sobre sífilis na obra do homem de Stratford. Estava pensando nos meus projetos e apetites intelectuais na estrada. O que me parece mais promissor é a paródia de Hamlet, e depois da oficina com o JP Cuenca eu até tenho me levado mais a sério como escritor, e já estou pensando em submeter dois volumes de prosa curta. Também tenho um sonho de estudar o humor, que já abordei no mestrado; arrogância ou não, achei a literatura que apresentei bem superficial, queria ver os escritos mais recentes e quem sabe um dia mergulhar de cabeça no tema, contrapondo a estrutura lógica e a camada semântica, para lá na frente elaborar um esboço de taxonomia dos recursos cômicos e por fim um dicionário desses recursos em Shakespeare. Isso e as traduções que não pretendo parar de fazer, é claro. Mas antes é preciso virar dotô e mordiscar um posto na Cadimia, caso ela ainda existir, para que alguém afinal me pague para viajar em todas essas maioneses. Segura um bocadinho, mundo.
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