Consumi muita informação a vida toda. Bebi música, bebi literatura, bebi artes plásticas, bebi notícias, bebi opiniões e análises, bebi páginas de internet e me embriaguei em redes pseudo-sociais. Me sinto encharcado. Não precisava disso. Ninguém precisa. A vida é algo muito simples, é manter-se vivo e tentar não esquentar a moringa. A gente tá sempre se cobrando, devia ter ido mais longe a esta altura, devia estar ganhando mais, devia estar casado, devia ter publicado um livro, feito um filho e plantado uma árvore. Não é sua obrigação fazer nada, deixar nada, destacar-se em nada. Não é sua obrigação fazer o pacto do Dr. Fausto e vender a própria saúde mental para ter um conhecimento impressionante, uma vez que o preço de encher a cabeça de ideias é enchê-la de minhocas. E estragar as vistas. Ninguém pode com tanta informação. Isso nos envelhece precocemente, tenho certeza. É como a lei da relatividade restrita psicológica: o tempo se comprime e num dia vivemos um mês inteiro de informação como eles eram não mais que vinte anos atrás. Será a internet causa ou sintoma? Vou usar a internet pra falar mal da internet? Eu até posso. Mas falo mal é de mim mesmo. Quem fica diante da tela por horas sou eu. E um monte de gente. Acompanhar os acontecimentos políticos é como passear numa montanha russa de manutenção duvidosa. E parecem nos manter sempre em suspenso, imaginando qual vai ser a próxima vez em que quase dispararam uma bomba atômica, a próxima vez que um conflito global vai ser deflagrado. Enquanto isso, um bombardeio de acontecimentos banais alçados à sensação. Enfim, que importa toda esta diatribe? Eu digo, para encerrar, que estando desta forma encharcado, me sinto sem o mesmo ímpeto para buscar coisas novas, música nova, escritores da atualidade, frequentar cinema, explorar serviços de filme na internet, nada. Preciso torcer a mim mesmo e, como Hamlet diz de Rosencrantz, ficar seco de novo. Preciso de um mês na praia.
Deixe um comentário