Hoje são sete de julho de dois mil e dezoito e o mundo não acabou. Talvez devesse. Não vejo o mundo melhorando muito no meu tempo de vida. Essa sensação de chão sumindo que já dura dois anos vai se revelar na verdade permanente. O absurdo vira paisagem, a vida segue, até o próximo absurdo, generais ameaçando são o novo normal e por aí vai. Depois deste derretimento institucional, o país precisa de duas décadas e gente muito bem intencionada para se por de pé. Do outro lado do espectro, um longo período de arbítrio e violência estatal não está nem de longe descartado. E na grande selva das redes sociais, o que ganha audiência é a asneira do outro, o comentário ofensivo, de modo que é a tosquice que faz a pauta. Muita gente que se opôs ao golpe agora satisfeita em falar “bem feito” aos que apoiaram. Uma gincana macabra. E na Espanha, onde censurar obras de arte por blasfêmia já ficou corriqueiro? Até na Holanda, onde eu sempre considerei que vivia gente de cabeça boa, um fascista quase venceu outro dia. Seria o fim do mundo mesmo. Aqui no Brasil é diferente. O fascismo é cordial. É um fascismo de sala de estar e corrente de whatsapp, e ele vem de fato em dois sabores. Um deles configurou a onda pelo impeachment, demonizando o PT à moda Goebbels (ou Globo), contando com uma classe média ressentida e organização profissional financiada de fora. O outro sabor é aquele mais específico, que idolatra um perfeito imbecil representante do orgulho de ser troglodita, e ajuda a circular uma ideologia abertamente autoritária. E isso é o pior, pois, mesmo não vencendo, esse discurso vai ter uma vitrine permanente agora. Mas se o fascismo de outrora tinha uma arrogância marcial, nosso fascismo é histriônico, e ofende fazendo troça. É o fascismo no país dos memes. Assim como a pizza, o sushi e tantas outras coisas, a gente faz o fascismo do nosso jeito. Acaba mundo.
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